Estou ciente de que algumas pessoas podem não saber o que é body casting, pode explicar brevemente?
Body casting é a arte de fazer uma réplica de uma parte do corpo. O que eu foco principalmente são seios, nádegas, vulvas e barrigas grávidas. Envolve despejar uma consistência pegajosa sobre a área que está a ser moldada, que depois endurece e captura todos os detalhes da pele. Depois é moldado num material diferente e transformado numa peça de arte.
Usar body casting para remodelar a forma como vemos os nossos corpos
Pode contar-nos um pouco sobre a sua história e a história por trás do seu trabalho? Quando e como começou a fazer body casting?
Comecei há pouco mais de dois anos e meio. Tudo começou a partir da minha própria relação terrível com o meu corpo enquanto crescia – especificamente a minha relação com a minha vulva.
Tudo se resumia a uma falta de educação e conversa. Sentia que nunca havia um espaço para eu celebrar o meu corpo. Nunca fui incentivada a isso. Em vez disso, estava imersa numa cultura cheia de artigos de revistas que envergonhavam a celulite, onde a vergonha e o embaraço eram quase encorajados.
Queria criar um espaço para pessoas com vulvas e seios celebrarem-se a si mesmas. Não temos oportunidades suficientes para isso. Somos tão facilmente autocríticas. Por isso, pensei que seria muito especial criar um espaço onde as pessoas pudessem ver-se de forma ligeiramente diferente, através de um olhar diferente, onde se tornam uma peça de arte. Queria ajudar os outros a não passarem pelo que eu passei.
Encontro pessoas com diferentes razões para virem a uma sessão de moldagem. Nem todas têm uma história ou uma relação com o corpo que querem reacender. Algumas pessoas vêm apenas para celebrar o seu corpo e transformá-lo em arte, pelo puro amor a isso!
Qual tem sido a sua missão com isto e mudou ao longo dos anos?
O meu plano sempre foi incentivar as pessoas a sentirem-se muito mais confiantes com o seu corpo. Ajudá-las a ver-se de uma forma diferente e a abraçarem-se completamente como são. Queria que não fosse sexual de forma alguma, que fosse tudo sobre a arte, a apreciação, a celebração. Não tinha a certeza se as pessoas iriam “perceber”. Mas elas abraçaram completamente e sou muito grata por isso. Não acho que a minha missão tenha mudado. Na verdade, se alguma coisa, cresceu.
O tabu em torno das vulvas e vaginas tem sido definitivamente desafiado ao longo dos anos, e nós também temos feito a nossa parte para quebrar tabus aqui na Mooncup. Notou alguma mudança nos anos em que tem feito o seu trabalho de moldagem? E acredita que o seu trabalho está a ter um impacto positivo?
Sempre fui otimista quanto à direção que a indústria está a tomar. Ainda existe um tabu, ainda temos um longo caminho a percorrer – no entanto, está a acontecer uma grande mudança. Mesmo nos últimos dois anos e meio desde que comecei, a conversa cresceu. Encontrei cada vez mais contas no Instagram, mais empresas como a vossa querendo colaborar e conversar.
Recebo um feedback incrível pelo qual sou muito grata. Quando preciso de um lembrete do porquê de fazer o que faço, guardo o feedback em capturas de ecrã numa pasta especial no meu telemóvel para rever.
Algumas pessoas inicialmente não têm certeza sobre o seu molde, mas depois de algum tempo com ele, dão um feedback com uma apreciação completamente nova. É muito fácil não olhar para a sua vulva, por exemplo, por isso é muito fácil tornar-se desligado. Quanto mais se expõe a si mesmo, mais aceita a forma como é. Quanto mais vê uma parte do corpo, em vez de a esconder, mais a aceita.
Aumentar a consciencialização sobre a saúde mamária e ginecológica
Estamos cada vez mais conscientes da importância de aumentar a consciencialização sobre a saúde mamária e ginecológica e de conhecer o seu normal (#knowyournormal). Diria que o seu trabalho contribui para isso? Faz parcerias, colaborações ou trabalho de caridade relacionado?
Espero mesmo que o meu trabalho contribua para isso! Na verdade, organizei uma exposição em outubro de 2021, que angariava fundos para a Coppafeel. A exposição foi realizada numa sala enorme que enchi com 100 moldes de seios. Também fiz moldes específicos que mostravam como verificar os seios, juntamente com informações sobre isso. Houve um sorteio e tudo foi para angariar fundos para a Coppafeel.
Tive alguns voluntários adoráveis que vieram fazer o molde, que passaram por cancro da mama ou tinham o gene BRCA, e todos partilharam as suas histórias. Foi incrível e emocionante. Muitas pessoas disseram-me que saíram sentindo-se muito mais conscientes da importância de verificar os seus seios com mais frequência.
A conversa sobre os nossos corpos está a mudar
Como a Mooncup tem a sua sede aqui em Brighton, descobrimos que estar tão perto do mar, e este desempenhar um papel tão grande nas nossas vidas aqui, colocou a saúde das nossas praias e mares no centro de tudo o que fazemos. Foi, de facto, um catalisador para a nossa missão como marca.
Há algo em particular sobre Brighton e a vida aqui que tenha sido uma fonte de inspiração ou empoderamento para si e para a sua arte?
As pessoas, com certeza! Esta é uma das cidades mais de mente aberta que já visitei, e parte da razão pela qual me mudei para cá inicialmente.
Publiquei numa grupo do Facebook de Brighton quando estava a procurar voluntários para fazer moldes. Não esperava muito, mas fui honestamente inundada com respostas de pessoas muito entusiasmadas! Muitas pessoas aqui são muito de mente aberta. Não acho que a minha carreira teria descolado numa pequena cidade adormecida qualquer!
Tem algum modelo artístico ou alguém que particularmente inspire o seu trabalho?
Não previ isso no início, mas conheci tantas pessoas incríveis que vieram fazer moldes comigo, que estão numa jornada semelhante e que fazem o seu próprio trabalho para inspirar outros. Cada uma delas inspira-me de formas diferentes.
Nunca estive numa bolha tão brilhante de seres incríveis que têm visões semelhantes sobre educação e vida, e sinto-me inspirada por eles diariamente. Por exemplo: Ellie, Evie, Naomi e Jo – para nomear apenas alguns!
Uma celebração da diversidade vulvar
Publicou um livro! Conte-nos mais!
Quando comecei a fazer moldes de vulvas, tinha na cabeça que queria fazer uma exposição. Percebi, no entanto, que uma exposição é muito situacional e só acessível a quem está presente na altura. Foi assim que surgiu a ideia de um livro! Queria que fosse acessível – para as crianças poderem crescer com ele em casa, para estar nas bibliotecas escolares. Tinha, e ainda tenho, um grande sonho para isso.
O livro chama-se ‘My Vulva and I’ e apresenta as 200 pessoas que se voluntariaram para o meu Projeto de Diversidade Vulvar, e cada uma delas escreveu um texto sobre a sua relação com a sua vulva.
Todas as histórias estão categorizadas em ‘tópicos’, para que os leitores possam ir diretamente à secção que lhes interessa, como por exemplo labioplastia. Há 52 tópicos no total, o que mostra uma verdadeira diversidade de origens e como todos temos uma experiência e relação muito única com as nossas vulvas.
Exposições de Lydia Reeves – passado, presente e futuro
Pode nomear o maior destaque da sua carreira?
Esta é difícil porque podia nomear tantos! Diria que só o facto de poder fazer isto a tempo inteiro já é um grande destaque na carreira. Mas para ser mais específica, uma mistura de tudo o que conquistei desde agosto de 2021 – lançar o meu livro e realizar duas exposições. São todas coisas que quis fazer desde o início. MUITO amor e trabalho árduo foram investidos nelas.
Pode partilhar um pouco sobre planos ou exposições futuras?
ADORARIA fazer algo em Brighton, não posso partilhar datas ou mais informações por agora, mas fiquem atentos…
Se estiver interessado em saber mais sobre o trabalho da Lydia, entrar em contacto ou marcar a sua própria sessão de moldagem, visite o seu Instagram: @Lydiareeves_artist. O link na bio inclui links para se inscrever na lista de espera e na lista de emails da Lydia. Pode também visitar a sua adorável loja, onde pode comprar o seu fabuloso livro, ‘My vulva and I’, kits de moldagem vulvar DIY, vales-presente e outros pequenos mas poderosos tesouros.
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